sábado, 28 de fevereiro de 2009

Introdução à meditação (Anônimo)

Caríssimo,

Por meio desta pequenina contribuição, desejo dar-lhe alguns conselhos que talvez possam ajudar-lhe em suas vivas aspirações por um desenvolvimento na meditação cristã. Por isso, em primeiro lugar, farei uma breve introdução ao tema 'meditação', e depois farei a exposição de um método que aprendi por conta própria, com minha experiência. Sinta-se livre para usar outros modos, esse é apenas um - e duvido que seja dos mais perfeitos.

Sendo assim, e rogando a Jesus Cristo através da intercessão da Santíssima Virgem Maria para que aproveites como convém este artigo, dou lugar à exposição.


1-) Meditar, o que é?

Em que se consiste a meditação? Quando se diz que alguém está meditando, o que de fato tal pessoa está fazendo? Quais são os fundamentos de uma meditação bem feita?

Os monges budistas meditam. Os enclausurados católicos meditam. Os filósofos meditam. Mesmo um trabalhador do campo ou um operário de chão de fábrica pode meditar.

A meditação, considerada de modo abrangente, é o concentrar-se, é o ato de fixar a sua atenção em um determinado objeto. Há graus mais ou menos intensos de meditação, segundo a gradação e a quantidade de referenciais intelectuais/sensorais/volitivos voltados para o mesmo objeto.

Não vou me ater aos diferentes tipos de meditação, pois esse manual não possui a pretensão de tornar-se um tratado sobre o tema. Agora,vou ensinar-te os primeiros passos da meditação cristã, a fim de que não percas o progresso espiritual até agora conquistado, e também para que possas tornar-te um homem melhor, através da conformação da sua vida à vida de Cristo e dos seus santos.

2-) Exemplos de meditadores e do valor da meditação

Nas Sagradas Escrituras, há um perpétuo convite à meditação. Diz o Salmo 1,2: "Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite." No Salmo 48, 2-4: "Escutai, povos todos; atendei, todos vós que habitais a terra, humildes e poderosos, tanto ricos como pobres. Dirão os meus lábios palavras de sabedoria, e o meu coração meditará pensamentos profundos." E no 76,12-13: "Das ações do Senhor eu me recordo, lembro-me de suas maravilhas de outrora. Reflito em todas vossas obras, e em vossos prodígios eu medito." Essas passagens são explícitas demonstrações práticas de meditação.

Jesus Bem Sirac escreve, inspirado por Deus, no Sexto capítulo do livro de Eclesiástico: "Meu filho, se me ouvires com atenção, serás instruído; se submeteres o teu espírito, tornar-te-ás sábio. Se me deres ouvido, receberás a doutrina. Se gostares de ouvir, adquirirás a sabedoria. Permanece na companhia dos doutos anciãos, une-te de coração à sua sabedoria, a fim de que possas ouvir o que dizem de Deus, e não te escapem suas louváveis máximas. Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, desgaste o teu pé o limiar de sua porta. Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assíduo à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração, e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas."(33-37).

E a Virgem Maria, exemplo sublime de todo homem que medita, é mostrada pelas escrituras como exemplo clássico de meditadora. Em Lucas 2, lemos: "Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: Hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura. E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina). Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração. Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito.".

Jesus também desejava que os homens meditassem santamente, refletindo nas ações dele e nos prodígios de Deus, bem como em seus mistérios: "Jesus advertiu-os: Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes! E eles comentavam entre si que era por não terem pão. Jesus percebeu-o e disse-lhes: Por que discutis por não terdes pão? Ainda não tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois, o coração insensível? Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais? Ao partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios de pedaços? Responderam-lhe: Doze. E quando eu parti os sete pães entre os quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes? Sete, responderam-lhe. Jesus disse-lhes: Como é que ainda não entendeis?..."(Lc 8,15-21).

Em parábolas Jesus falava exatamente para fazer com que os seus ouvintes refletissem e meditassem na palavra de Deus. Em Marcos 13, diz o Senhor: "Aquele que tem ouvidos, ouça. Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por que lhes falas em parábolas? Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem. Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s). Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram." (9-17).

A expressão "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" refere-se exatamente a isso: quem fica atento para a realidade que agora diante de vós é manifesta, que a aceite! E para tal intento, a reflexão, a meditação é um instrumento privilegiado, pois abre-nos a atenção para aquilo que está diante de nós, mas não vemos; está sendo dito, mas não está sendo escutado... A meditação ajuda-nos a discernir a verdade, e ajuda-nos a adequarmo-nos a ela assim que esta for compreendida e manifesta. É um dos métodos para se aproximar à Verdade.

O valor da meditação nas coisas é importante para delas extrairmos verdades simples, fundamentais. E, se nas coisas do mundo a meditação é necessária, nas coisas do alto, não seria? Se para as coisas indignas há meditação, não haverá meditação para as dignas??

3-) O ato da meditação cristã

Fixarmos a nossa atenção em determinado objeto é bom, pois nos ajuda a compreender o objeto, as verdades a ele inerentes, e as verdades e exemplos que esse mesmo objeto traz consigo. Há diferentes objetos de meditação (objetos sobre os quais refletimos). O mais digno deles é Deus mesmo, a Verdade mesma, o Amor mesmo, o Supremo Ser.

A meditação cristã visa essencialmente contemplar através da intencionalidade espiritual dirigida para os acontecimentos da história da Salvação, desde o antigo testamento até a vida dos santos atuais, a sua principal e máxima fonte de reflexão: a anunciação, o nascimento, desenvolvimento, vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, o Intelecto de Deus encarnado – Caminho, Verdade e Vida.

Sendo assim, nosso principal objeto é meditar na vida de Cristo. É meditar sobre Cristo, em Cristo, por Cristo e para Cristo. É meditar nas ações, sentimentos, ensinamentos d'Ele. É aprender com o Supremo Mestre. É buscar beber da fonte de água viva da Verdade Divina que entre nós viveu, morreu e ressuscitou.

Prova disso é aquilo que Jesus disse à Marta, irmã de Lázaro: "Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada." (Lc 10,38-42)

Cada ato de Cristo, cada expressão, ensinamento, palavra, cada aspecto de Jesus, cada tentativa de imitação de Cristo na vida dos santos... tudo isso deve ser objeto de nossa meditação cristã.

E como o Senhor Jesus era o Cordeiro de Deus, o cordeiro perfeito sem mancha de espécie alguma, também nós devemos procurar sermos como Ele. Mas como seremos Cristo sem a ele nossa mente, nossa vontade e nossas ações estarem conformadas? Como é que passaremos a imitar a Cristo se não temos conhecimento do quê imitar?

É para isso que a meditação cristã existe. Ela é um meio, e não um fim em si mesma.

4-) Como meditar?

O método da meditação cristã pode ter como objeto qualquer coisa que leve alguém a compreender e conformar melhor a sua vida à vida de Jesus.

A meditação mais conhecida e certamente a mais praticada dentre os meios cristãos é meditação dos Mistérios do Santo Rosário Mariano. Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos da vida de Cristo.

Como a vida de Cristo é perfeitamente humana e perfeitamente divina, assim creio que também deve ser a meditação cristã: ela deve cotejar aspectos sensoriais, volitivos, intelectuais e espirituais em sua meditação, dentro de um recorte que é o próprio objeto da meditação.

E como a meditação é um processo intelectivo de concentração intencional sobre um acontecimento(fato), um ensinamento(doutrina) ou uma pessoa(indivíduo), é importante evitar todo tipo de distração – intelectiva, volitiva ou sensorial. Que seus sentimentos, vontade e ação estejam completamente submersos no ato da meditação. Se quiserdes fechar os olhos, isso será um instrumento facilitador para evitar a dispersão do espírito. Se quiser desligar o celular, o telefone, a televisão... se quiser ir para um lugar silencioso, evitar contatos com o exterior, evitar estar com desconforto físico, etc. Tudo isso é fundamental para centrar-se em pensamentos dignos e frutuosos durante meditação.

Meu método não é um método perfeito. Ele é adequado segundo nas necessidades, o objeto, as minhas disposições e as disposições do ambiente no qual estou, etc. Sintam-se livres para discordar de mim e encontrar meios mais perfeitos, pois creio ser minha contribuição bastante pequena nessa área.

Explico como meditar, por exemplo, através dum acontecimento bíblico: a Anunciação da encarnação de Cristo feita pelo anjo Gabriel à Santíssima Virgem Maria. Vejamos o relato no livro de Lucas 1,25-38, que nos servirá de material (será o objeto) dessa meditação.

"No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.".

4.1-) Aspectos sensíveis da meditação

Pensemos primeiramente nos aspectos sensíveis – ver, tocar, cheirar, experimentar, sentir, ouvir. Procure conceber em sua mente como era a Galiléia. Imagine a região da Galiléia, e um vilarejo chamado Nazaré. Use, para reconstruir essa imagem mental, todas as informações disponíveis que tendes sobre aquela região: clima, umidade, tempo, data, condições físicas, sociais, econômicas, espirituais, culturais, de saúde, de vestimentas e estética, de trabalho e de religião. Depois de pensar nesse grande lugar, vá até a casa de Maria. Como é a casa de Maria? Muitos, poucos cômodos? É limpa, aseada? Empoeirada, cheia de areia? Está feita com que tipo de material? Como são os móveis? Como está a iluminação? Janelas? Bens de consumo, alimentos, roupas, onde fica cada coisa? E espiritualmente? Procure ver a casa espiritualmente as relações da Virgem Maria. Ela é uma casa abençoada por Deus? Há anjos em volta da Virgem? E como são os anjos? E como é a relação dos anjos com a Virgem Maria? Como eles se comportam antes do anúncio do arcanjo Gabriel? E antes um pouco da anunciação, estava a Virgem fazendo o quê? Estava cozinhando? Rezando? Meditando? Ou estava entretida com outras atividades?

A imaginação sensível – como podemos notar acima – preocupar-se-á com aquilo que você estará sentindo durante o acontecimento meditado, como se lá você estivesse. Alguns preferem ficar assumindo papéis durante a meditação (uns pensam-se como o anjo, ou como Nossa Senhora), outros são como que um observador invisível daqueles fatos, outros ainda sentem-se ora como um, ora como outro, ora os dois, ora nenhum (temos nesse caso um meditador observador e partícipe). Não obstante o papel que assumas, procura guiar teus sentidos para aquilo que eles deveriam sentir se lá estivessem. Eles devem tentar reproduzir as sensações daquilo que é o objeto de meditação, e essas sensações devem ser atualizadas a cada momento, a cada informação nova que vai se apresentando à nossa mente durante a meditação do acontecimento.

Ou seja: se você sentia algumas coisas antes da aparição do Anjo, a esses sentimentos novos fatos foram agregados, e esses fatos produzem novos sentimentos que devem ser meditados simultaneamente. Num instante a Virgem estava entretida com uma atividade e depois – oh! – um anjo se apresenta diante dela! Quais reações sensoriais aí estão envolvidas? Certamente são diferentes daquelas que a atividade anterior oferecia. Tudo isso é simultâneo na meditação, que progride reproduzindo os sentimentos segundo a ordem narrativa do evento meditado.

4.2-) Aspectos volitivos da meditação

Depois, vamos para a meditação volitiva do fato meditado. Da palavra 'volição' é que vem a palavra 'vontade', e exatamente isso é o que observaremos dentro dos acontecimentos sentidos. Qual era a vontade de Deus, em primeiro lugar, ao mandar o anjo fazer a anunciação? E a vontade do anjo Gabriel, qual era? E a dos anjos que estavam ali, mas não faziam a anunciação? E a vontade da Virgem, pouco antes da anunciação, como seria? E durante, e depois? O que queriam cada um dos envolvidos no acontecimento? Como é que a vontade deles reagia aos acontecimentos dos quais eles eram participantes? Como a vontade humana ou angélica interagiam? Os sentimentos criados por efeito dos fatos sensíveis e intelectivos afetavam a vontade (isto é, os aspectos volitivos) daqueles que na anunciação estavam envolvidos, ou não??

Os aspectos volitivos (a vontade) podem ser divididos - segundo o objeto - como aspectos prévios (antes do evento meditado), aspectos posteriores (depois do evento meditado) ou aspectos intermediários (que se manifestam 'durante' o evento meditado). E cada aspecto volitivo é também simultâneo ao desenvolvimento dos fatos na narração da anunciação. Ou seja, a cada ato que acontece na narração bíblica, há uma relevância sensorial especifica, bem como uma relevância volitiva específica – que pode acompanhar ou não as relevâncias sensoriais. Trocando em miúdos através de um exemplo: a sensibilidade física da Virgem Maria mudou bastante conforme o acontecimento da aparição angélica (sentiu o anjo, viu o anjo, ouviu o anjo, escutou a saudação do anjo, etc) mas por acaso houve nesse meio tempo entre a aparição e a atividade anterior alguma relevante nota volitiva? Houve alguma decisão da vontade digna de nota durante esse acontecimento??

Por isso, embora a cada fato exista um fator volitivo em questão, os fatores volitivos dignos de relevância e valor são percebidos como diferentes dos sensitivos. Enquanto para os sentidos determinados fatos são relevantes de serem lembrados com o intuito de mergulhar o nosso corpo no evento da meditação cristã, os fatores volitivos que são relevantes podem pulular depois de vários eventos sensíveis ou intelectivos, ou mesmo depois de nenhum (uma decisão arbitrária, por exemplo). Para percebermos esses eventos volitivos, é necessário pelo menos momentaneamente realizar um juízo de valor sobre a soma dos fatos e sua relevância até aquele momento.

Os fatores volitivos posteriores ao evento devem ser considerados pouco antes de terminar a meditação; a eles podemos nos adequar se são bons. Podemos rejeitar se são maus. Exemplo: a Virgem Maria disse que ali estava a serva do Senhor, e rogou para que nela se fizesse a Vontade Divina. Tal disposição volitiva teve um resultado? Ele foi bom? Deve ser imitado em alguma medida? Que mais pode ser imitado? E quanto aos aspectos volitivos que foram maus? Quais deles devem ser evitados? Quais lições podemos extrair através daquelas disposições volitivas (decisões) a serem rejeitadas? Etc.

4.3-) Aspectos intelectivos da meditação

Os aspectos intelectivos da meditação são os mais abrangentes, e de longe são os que mais produzem frutos na alma piedosa que aspira à Verdade.

Os aspectos intelectivos da meditação são as verdades que podem ser apreendidas através da atenta observação do acontecimento, bem como das íntimas verdades que tal fato nos comunica por si só e em relação com outros fatos. Por exemplo: quando vemos a Virgem Maria receber, numa cidadezinha da Galiléia, a anunciação angélica de que haveria de conceber o Redentor, quais coisas podemos aprender? Quais lições Deus nos dá a conhecer através desses eventos? Poderíamos aprender muitas coisas, segundo os símbolos ali descritos, segundo os detalhes dos eventos, segundo as disposições da providência Divina...

No Antigo Testamento, Deus havia prometido que de uma moça virgem o Messias (Cristo) seria concebido. Conclusões possíveis: Deus cumpriu sua promessa. Deus é fiel para com as suas promessas, e n'Ele podemos depositar nossa confiança. Deus lembrou-se dos homens em tudo, mesmo no cumprimento de suas 'obrigações auto-impostas'.

Deus manda um anjo avisar à Virgem Santíssima de que ela conceberá através do Espírito Santo, e que o manto do altíssimo a cobrirá. O antigo sinal judaico para 'desposar alguém' era colocar a pessoa desposada sobre o manto daquela que está desposando. Sendo assim, vemos Deus assumindo a Virgem Maria como 'Esposa de Seu Espírito', tornando aquela mulher a criatura mais entranhada na Trindade: Filha de Deus-Pai, Esposa do Deus-Espírito Santo e Mãe de Deus-Filho. Isso nos mostra o quanto Deus amou e ama a Virgem Maria, do modo que ela se torne, de todas as criaturas, a mais agraciada. Afinal, o texto sacro também não diz que o anjo a chamou "CHEIA de Graça"? Cheia, repleta, puro e inviolado Vaso da Graça Divina!

Tais verdades, quer sejam veladas ou explícitas, são maravilhosas imagens refletidas de Deus nas criaturas, nos acontecimentos e fatos, que nos fazem rejubilar de alegria do Espírito durante a meditação. Cada fato, cada detalhe percebido em sua verdade íntima ou correlata, pode levar-nos à contemplação de uma realidade cada vez mais densa, mais profunda, completa e salvífica.

É através destas que nosso intelecto começará a fruir da Graça de Deus reservada àqueles que são amantes da Verdade. A meditação já é uma alegria que aparenta como que um prelúdio da beatitude celeste, e os aspectos intelectivos são como que a doce seiva que preencherá os frutos da meditação.

Novamente insisto que para cada fato da narração bíblica meditada, há por vezes muitos aspectos intelectivos dignos de nota, ou apenas um. Aconselho que cada pessoa escolha aqueles que acredita serem os mais relevantes para o significado total daquele evento meditado. Segundo as disponibilidades de tempo, cada um pode ficar desde alguns minutos, horas, dias ou até meses meditando nos inúmeros aspectos intelectivos de cada objeto.

Os aspectos intelectivos também são flexíveis quanto a sua abrangência. Alguns são relativos a um grupo de eventos, outros são relativos a um evento particular. Como tais, há aspectos de verdades maiores e menores, mais relevantes e menos relevantes segundo o interesse daquele que medita, segundo os seus objetivos.

5-) A Oração

Como fruto da meditação, a oração é sua atividade complementar. Através da oração cristã e da meditação, podemos adequar nossa vontade a Cristo e aos seus Santos, para então vivermos como Ele, agirmos como Ele, sermos como Ele, no intuito de nos tornarmos Santos.

Na meditação cristã do Terço, enquanto se pronunciam vocalmente as orações normais do católico, meditamos nos mistérios da redenção divina. Adequamos e ocupamos assim o homem como um todo na hora de orar e meditar, fazendo disso o instrumento por excelência de um desenvolvimento sadio da espiritualidade e intimidade com Deus – Caminho, Verdade e Vida Plena a qual todos nós aspiramos.

Podemos rezar o 'Pai-Nosso' meditando aquilo que a oração nos traz como verdade em seu bojo, e podemos aplicá-las (as verdades da oração) ao evento meditado secundariamente. No caso do Santo Terço, usamos como mecanismo de meditação as 'frases-oração' do 'Pai-Nosso' no contexto dos mistérios gozosos, dolorosos, gloriosos... etc. O mesmo se dá com a 'Ave-Maria'. E com o 'Glória ao Pai', e com qualquer outra oração, que pode ser meditada em si, ou ser usada como mecanismo vocal de meditação de uma reflexão secundária.

Nunca deixe de meditar enquanto for principiante nas orações e em suas relações com Deus. É uma excelente introdução a um dos principais métodos de oração cristã.

Através da meditação, podemos chegar à contemplação – nível alto de oração na qual Deus mesmo ora em nós de modo ativo, e nós de modo passivo (exatamente o inverso da meditação, no qual o agente somos nós, e o objeto é Deus).

Por enquanto, é isso, amigo.

Qualquer dúvida, procure-me ou procure uma pessoa mais capacitada para lidar com essas questões – coisa que não creio ser difícil, haja vista minha miséria e fraqueza em questões do espírito. Um abraço, e conte com minhas orações.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Voltaremos à atividade!

Depois de algum tempo em missões materiais com frutos abundantes (Deo Gratias!) estamos a retomar a propagação da fé católica também por meios virtuais.

Novas postagens surgirão com o tempo.