sábado, 25 de fevereiro de 2017

Silogismo Anti-Sedevacantista 2 - Não importa se 'X' é ou não Papa, o que importa é ser Católico!

Voltamos com a série dos "silogismos anti-sedevacantistas".

Uma das objeções que têm se tornado das mais comuns durante esses tempos nos quais vemos a Sé de Pedro usurpada por um farsante como Bergoglio é a objeção indiferentista quanto à importância de se afirmar se o atual suposto sumo pontífice verdadeiramente é ou não sucessor da Sé Apostólica de São Pedro. 


Escolhem simplesmente ignorar suas ordens, sua existência, sua importância efetiva e concreta, simplesmente "permanecerem vivendo a fé católica de sempre", como se nada houvesse ocorrido. E, para tanto, alegam - como exemplo dessa atitude - a atitude dos diversos católicos no período do grande Cisma do Ocidente.


Procurando resumir e simplificar a argumentação dos indivíduos que enxergam de maneira tão turvada a realidade - visando, quiçá, afastar os fiéis de um espantalho delirantemente imaginado como sendo "o tão prejudicial sedevacantismo" (sic) - , teríamos um silogismo formado do seguinte modo:

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Premissa 1:

Durante o cisma do Ocidente, os católicos permaneceram fiéis à Fé Católica mesmo sem saber quem era, realmente, o papa reinante.

Premissa 2:

Oras, os católicos hoje não podem saber quem é, realmente, o papa reinante.

Conclusão:

Portanto, os católicos hoje permanecem fiéis à Fé Católica independentemente de saberem quem realmente é o papa ou se de fato há a vacância da Sé Apostólica.


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Os problemas começam ao analisarmos a complexidade da 1ª premissa. 

1) De fato, os clérigos, os leigos, os fiéis e até os santos católicos divergiram quanto aos reclamantes ao Sumo Pontificado Romano dentre os anos 1378 a 1417, totalizando um período de quase 40 anos de controvérsias, enfrentamentos e debates cujo efeito foi poderoso para o desenvolvimento de uma lenta, porém gradual perda de credibilidade que a Igreja começou a sofrer no seio da Europa durante o Baixo Medievo.

No entanto, o problema era a divergência entre as pessoas que estavam a reclamar a legitimidade de uma eleição pontifícia - nunca e nem sequer por um minuto a divergência foi sobre a ortodoxia católica manifesta na nossa regra de fé, ou nas leis universais, nos ritos litúrgicos, catecismos, canonizações e muito menos num Concílio Ecumênico (Geral). Portanto, mesmo faltando a estes católicos a figura certa de um único pastor, nesse meio tempo todas as querelas doutrinais e todos os ensinamentos acerca da fé ficaram em suspenso, sendo universalmente aceitos por todos os fiéis de todas as facções adversárias dos três reclamantes ao sumo pontificado.

A
 validade da primeira premissa, portanto, é real mas deve ser modulada em razão desse pano de fundo: os fiéis católicos permaneceram católicos durante o cisma do Ocidente? SIM, porque aquilo que era questionado naquela situação histórica não implicava em efeitos imediatamente relativos à confissão da fé católica. Estava sendo questionado se tal ou qual pessoa era o verdadeiro reclamante ao pontificado, não se deveríamos obedecer ou não os decretos dum Concílio Ecumênico (ou a liturgia aprovada em decorrência dele).

2) A 2ª premissa da objeção indiferentista nossos objetores mascaram-na em subterfúgios e sub-razões diversas: a primeira afirma incerteza acerca da vacância ou não da Sé Petrina, em razão de um "mistério da iniqüidade" que "manifesta coisas impossíveis diante de nossos olhos"; a segunda afirma: "é indiferente saber se temos ou não papa" reinante para a manutenção da fé católica; a terceira, que é impossível sabermos fazer um juízo absolutamente acertado sobre essa questão - portanto devemos entender que admitir ser tal ou qual pessoa X o papa é mera questão de "opinião teológica".

Essas três razões justificantes da segunda premissa, no entanto, não se sustentam. 

2.1) A primeira delas é a redução da situação atual a um "mistério" irracionalista. Afinal, se a situação atual é um "mistério da iniquidade", qual a relação direta disso com a incapacidade de se formar um reto juízo racional acerca da realidade que todos os dias vemos diante de nossos olhos? Afinal, que é este "mistério" senão uma forma "espiritualizada" de se dizer que tal realidade suscita profunda perplexidade, questionamentos e DÚVIDAS em nós? Mas, onde existe a dúvida - senão na mente do duvidante? 

No mundo real, as coisas ou SÃO ou NÃO SÃO. 

Não existe estado intermediário entre o SER e o NÃO SER, o que nos faz entender que a realidade, a verdade, é uma só: ou Francisco-Bergoglio (e seus antecessores pró-CVII) são verdadeiros papas, ou não são. Se ele é papa, devemos reconhecê-lo enquanto tal e segui-lo como convém a verdadeiros católicos. Se ele não é papa, devemos rejeitá-lo como usurpador, falsário e mentiroso, negando-lhe o reconhecimento de todo orbe católico.

Ademais, o que é um mistério? Mistério é uma palavra ambígua dentro da linguagem comum, mas em teologia cristã significa todas as incompreensibilidades típicas de uma verdade revelada - como por exemplo, a Santíssima Trindade - todavia certamente não é disso que se trata aqui, quando nossos opositores usam o termo "mistério", eles apenas querem dizer que esta é uma situação de difícil explicação.

Mas apelar para um "mistério" quando a razão e o esforço humano ainda podem destrinchar devidamente uma determinada realidade não é sábio - é sinal de preguiça intelectual, ou talvez de temor frente às conseqüências de uma tal perscrutação.

Talvez digam: "Não! Esse mistério trata da realização de coisas que consideramos impossíveis acontecerem! Não há como esclarecermos algo que sequer podemos entender!" - Ao quê devemos replicar dizendo que:


2.1.1) Por acaso é impossível estabelecer um fato dogmático? Se assim fosse a sucessão apostólica jamais teria clareza evidente, portanto, a continuidade histórica da Igreja Católica estaria abortada e todas as pretensões dela como sendo a legítima Esposa de Cristo na terra estariam frustradas. Portanto, isto é um falso subterfúgio.

2.1.2) Por acaso, ao notarmos que acontece alguma coisa a qual considerávamos ser "impossível" acontecer, qual deve ser nossa atitude, senão revisar nossos conhecimentos?Deveríamos verificar se realmente esta é uma impossibilidade (talvez ela seja apenas relativamente impossível, não absolutamente impossível), de modo a encontrar uma explicação plausível em conformidade com a realidade conhecida? Ou deveríamos revisitar nossos princípios, para saber se eles estão efetivamente bem fundamentados no mundo real? Tudo isso sim, deve ser feito: deste modo, certos fatos anteriormente vislumbrados podem não ser tão certos assim, bem como podem sofrer nova luz e uma interpretação diferente; podemos também passar a conhecer coisas novas que nos façam enxergar algo antes certo como meramente duvidoso, etc.

O que nunca pode entrar em jogo é a nossa adesão filial à FÉ CATÓLICA e à VERDADE OBJETIVA. Oras, dizer que não se pode jamais saber se a regra próxima da nossa fé (o papa) POSSUI OU NÃO FÉ PARA NOS CONFIRMAR NA VERDADEIRA FIDELIDADE A DEUS é certamente absurdo para um fiel católico, dado que um ofício eclesiástico existe em razão do que ele oficia (do que ele faz), e se ele não oficia nada do que lhe é próprio, o cargo é claramente inútil - coisa inadmissível para um católico. É como não ter timoneiro algum na barca da Igreja; em última instância, é sedevacantismo prático sem admissão explícita da justificação teórica.

É, igualmente, um falso subterfúgio simplesmente deixar de refletir acerca de situações aparentemente paradoxais, "impossíveis" e contraditórias, pois deixar-se ficar estupefato diante do inusitado, diferente e inesperado é próprio daquele ser que não evolui em nada a sua agudeza intelectual na perscrutação do universo e na procura da verdade: é próprio do preguiçoso, do covarde, do que enterra seus talentos (cf. Mt 35,13-30).

2.2) O argumento que diz ser indiferente sabermos se há ou não papa é totalmente inadmissível. Esta tese contradiz o Magistério da Igreja, o qual afirma ser "absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice" (Cf. Bula Unam Sanctam). Oras, se alguém é indiferente à ciência de que temos ou não Papa, como pode estar devidamente subordinada a ele? Como ela acatará aos seus comandos, como obedecerá suas ordens, como será instruído por seus ensinamentos, como dará cumprimento às determinações que ele fizer? Como AGIR quando a dúvida paralisa? Não!

Simplesmente, ele não o fará. Tornar-se-á um católico desobediente, insubordinar-se-á, será um rebelde velado na teoria, mas na prática dará de ombros para tudo aquilo que for proveniente da Sé Romana. Certamente, esta não é uma atitude católica a ser cultivada e seus praticantes estão a passos largos rumo ao protestantismo.

2.3) Já a terceira razão alegada para não se subordinar à pessoa atualmente sentada na Sé Apostólica de São Pedro é a de que "não há certeza absoluta que de fato ele seja papa", pois é "impossível fazer um juízo absolutamente certo" sobre o pontificado ou não de alguém - logo, devemos ser indiferentes a isso.

Este argumento nos deixa impressionados pela audácia: se não há certeza absoluta (ou seja, certeza em nível metafísico), não se pode deixar de ser indiferente quanto à existência ou não de um papa!

Obviamente, é uma falsa argumentação. Mas por quê?

Conforme nos ensina o Papa Pio XII em uma alocução de 1942 à Rota Romana (Canon Law Digest, Vol.3, vide páginas 606-608, do §1 ao §3a), o motivo é que a certeza absoluta (metafísica) é, em muitos casos de análise concreta, absolutamente inatingível - e que nos basta outro grau de certeza (a saber, a certeza moral) para afirmar com convicção uma determinada proposição e dela extrair as conseqüências daí nascidas. Não obstante essa certeza moral seja diferente da certeza metafísica, ela é verdadeira certeza baseada no princípio da razão suficiente e é com base nela que devemos extrair nossos juízos de razão prática quando existem fatos dogmáticos a serem observados conscienciosamente.

Donde, existindo razões suficientes que emanam da resposta a todas as dúvidas positivas e razoáveis levantadas contra a pretensão papal de um sujeito, existindo um conjunto argumentativo - que embora quando considera cada argumento por si, isoladamente, não demonstra a certeza moral, mas que quando considera a somatória de inúmeras evidências e provas devidamente contextualizadas exclui toda probabilidade razoável contrária - então aí há a convicção suficiente para se afirmar a certeza moral. (Valendo lembrar ainda que esta certeza é a mesma certeza exigida num tribunal canônico em favor ou desfavor de uma tese que verse sobre fatos histórico-canônicos, conforme o papa Pio XII descreve na alocução anteriormente referida).

3) A conclusão desse arrazoado, portanto, não se pode sustentar.

Os católicos NÃO permanecem fiéis à Fé Católica se voluntariamente desobedecem os critérios bem determinados de subordinação ao Soberano Pontífice, radicados explicitamente na doutrina ex-cathedra do Magistério da Igreja do Papa Bonifácio VIII. Não é indiferente sabermos da existência ou não de papa na Sé Romana - é antes fundamental para estarmos devidamente subordinados a ele.

Isso só seria possível se eles afirmassem formalmente a Vacância da Sé Apostólica, mas posto que alegam essa tese exatamente para se livrarem do espectro do sedevacantismo, não sabemos que sorte de tergiversação hão de usar, agora, para mais uma vez sustentarem o insustentável - a única coisa que sabemos é que não mais usarão o falso argumento indiferentista, posto este ter sido agora devidamente refutado.