domingo, 21 de setembro de 2008

QUANDO OS LEIGOS SUSTENTAM A IGREJA

Por Cardeal Newman


(Trecho de artigo publicado em The Rambler, julho de 1859, citado por Hugues Keraly, Présence d’Arius, Paris, D. M. M., 1981)


É bastante notável que, embora falando historicamente o século IV seja a época dos doutores, aquele que foi iluminado por santos como Atanásio, Hilário, os dois Gregórios, Basílio, Crisóstomo, Ambrósio, Jerônimo e Agostinho (tendo sido bispos todos esses santos, com uma única exceção), contudo, nessa mesma época, tenham sido os leigos que mantiveram a tradição divina confiada à Igreja.


Efetivamente, isso exige alguma explicação: dizendo isso, não nego evidentemente que, em sua expressiva maioria, os bispos tenham sido ortodoxos, no mais íntimo de sua fé; tampouco nego que tenha havido membros do clero para assistir os leigos e servir-lhes de guia e fonte de inspiração; nem desconheço que os leigos tenham recebido certamente a fé, em primeira mão, dos bispos e do clero; não nego que haja entre os leigos alguns ignorantes e que outros se tenham corrompido por pregadores arianos, os quais conseguiram apoderar-se das sedes episcopais e ordenar sacerdotes heréticos. No entanto, persisto em dizer que, nessa época de imensa confusão, o dogma divinamente revelado da divindade de Nosso Senhor foi proclamado, afirmado e mantido e, falando humanamente, preservado muito mais pela Ecclesia docta do que pela Ecclesia docens; que o corpo dos bispos foi infiel à sua missão, ao passo que os leigos permaneceram fiéis ao seu batismo; que ora o Papa, ora uma sede patriarcal, metropolitana ou outras sedes importantes, ora concílios gerais disseram o que jamais deveriam ter dito, ou realizaram atos que obscureceram ou puseram em perigo a verdade revelada. Entrementes, foi o povo cristão que, sob a orientação da Providência, constituiu a força cristã de Atanásio, de Eusébio, de Verceil e de outros confessores solitários da fé, que sem esse povo não teriam resistido [...]. Digo que houve suspensão temporária das funções da Ecclesia docens. O conjunto dos bispos foi infiel ao dever de confessar sua fé.


Vejo, pois, na história do arianismo, um rematado exemplo de situação da Igreja durante a qual, se quisermos discernir onde está a Tradição Apostólica, é aos fiéis que devemos recorrer.


Leão XIII – Sapientiae Christianae, 10 de Janeiro de 1890.

(Excertos)

21.Nesse enorme e geral delírio de opiniões que vai grassando, o cuidado de proteger a verdade e extirpar o erro dos entendimentos é missão da Igreja e missão de todo o tempo e de todo o empenho, como que à sua tutela foram confiadas a honra de Deus e a salvação dos homens. Mas quando a necessidade é tanta, já não são somente os prelados que hão de velar pela integridade da Fé, uma vez que: “cada um tem obrigação de propalar a todos a sua fé, seja para instruir e animar os outros fiéis, seja para reprimir a audácia dos que não são”(Summa II II, q3, a2, ad 2).

23.A primeira aplicação desse dever é professar, clara e constantemente a Doutrina Católica e propagá-la o mais que puder. Com efeito, como já se disse muitas vezes e com muita verdade: o que mais prejudica a Doutrina de Cristo é não ser conhecida. Ela só, bem compreendida, basta para triunfar do erro, nem há ai alma simples e livre de preconceitos que a razão não mova a abraçá-la. Ora a Fé , ainda que como virtude é um dom precioso da Divina Graça e Bondade; todavia, quanto ao objeto sobre que versa, não pode por via ordinária ser conhecida senão pela pregação: “Como crerão naquele que não ouviram? E como ouvirão sem pregador? ... a fé é pelo ouvido, e o ouvido pela palavra de Cristo” (Rm 10, 14-17). Por conseguinte, sendo necessária a fé para a salvação, segue-se que é inteiramente indispensável a pregação da palavra de Cristo. É certo que esse encargo de pregar ou de ensinar pertence por direito divino aos doutores, isto é, aos bispos que o Espírito Santo constituiu para governar a Igreja de Deus (At 20, 28) e de um modo especial ao pontífice romano, vigário de Cristo, preposto com poder supremo à Igreja Universal como mestre de quanto se há de crer e praticar. Mas não pense ninguém que ficou por isso proibido aos particulares cooperar com alguma diligencia nesse ministério, principalmente aos homens a quem Deus concedeu dotes de inteligência juntos com o desejo de serem úteis ao próximo. Esses, em caso de necessidade, podem muito bem, não já afetar a missão de doutores, mas comunicar aos outros o que eles mesmos aprenderam, e ser em certo modo o eco dos mestres. Até mesmo essa cooperação dos particulares pareceu aos Padres do Concilio Vaticano I tão oportuna e frutuosa, que não hesitaram em reclama-la nos termos seguintes: “A todos os fiéis cristãos, principalmente àqueles que tem superioridade e obrigação de ensino, suplicamos pelas entranhas de Jesus Cristo, e em virtude da autoridade deste mesmo Senhor e Salvador nosso lhes ordenamos, que apliquem todo o seu zelo e trabalho em desviar esses erros e elimina-los da luta da Igreja, e difundir a luz puríssima da nossa Fé” (Const. Dei Fillius ad fin).

25. Desse modo nos deveres que nos ligam a Deus e com a Igreja está em primeiro lugar o zelo com que cada qual deve trabalhar segundo as suas forças em propagar a Doutrina Cristã e refutar os erros.

sábado, 6 de setembro de 2008

Quem é Joseph Ratzinger? Que podemos esperar dele?


Perguntas e Respostas

Por Mons. Donald J. Sanborn



1- Quem é Joseph Ratzinger?


Nasceu em 1927 na Baviera, e foi ordenado sacerdote em 1952. Durante o Vaticano II, foi o teólogo pessoal do Cardeal Frings. Mais tarde ensinou em Tübingen, a universidade ultra-esquerdista do sul da Alemanha. Paulo VI o fez Arcebispo de Munich em 1970. João Paulo II o colocou a frente da Congregação para a Doutrina da Fé, posto em que permaneceu até tornar-se Bento XVI.



2- De que lado estava no Concílio?


Ratzinger era a mão direita do já mais velho Karl Rahner, que junto com Hans Kung, se uniram para controlar o Concílio. O fizeram mediante a união dos que se chamaram Coalizão Européia, um grupo muito bem organizado de Bispos do norte da Europa que tomaram conta do Concílio. Ratzinger, por tanto, junto com Rahner e Kung, representava a ala da extrema esquerda do Concílio (os progressistas).



3- Então, é apropriado dizer que Ratzinger é conservador?


Não. Do ponto de vista da Fé Católica, Ratzinger nem se quer é católico. É um herege público igual a Wojtyla. Pode ser tido por conservador na medida em que não está a favor do sacerdócio feminino, a contracepção, o aborto, a homosexualidade, etc. Também disse alguma coisa em favor da liturgia tradicional. Mas comparando-o com Papas católicos, tais como Pio IX, Leão XII, São Pio X, Bento XV, Pio XI ou Pio XII, nem sequer pode ser tido por católico.



4- Por que você disse que Ratzinger nem mesmo é católico?


Porque ele é um maníaco ecumênico, mais ecumênico, penso eu, que Wojtyla, se isso é possível. O ecumenismo é contrário a nossa santa Fé. Foi condenado claramente pelo papa Pio XI em 1928, como o equivalente do ‘’abandono da religião revelada por Deus.’’ O ecumenismo é a alma e o coração do Vaticano II. Todos as mudanças litúrgicas, doutrinais e disciplinares do Vaticano II se fizeram em nome do ecumenismo. Em seu primeiro discurso, Ratzinger asegurou aos cardeais que ele vai continuar com as reformas do Vaticano II e com a tentativa de acercar as outras religiões pela via do ecumenismo. Devemos entender que o ecumenismo é o principal problema. O Ecumenismo e o Catolicismo não podem ir juntos, se unir. Se Ratzinger é ecumênico – e ele o é – então não serve para nada (Mt 5,13) e não é papa.


Ratzinger condena o Espírito do Concílio? Angelus, 30 de outubro de 2005:[...] exorto-vos a rezar juntamente comigo à Virgem Maria, para que ajude todos os crentes em Cristo a manter sempre vivo o espírito do Concílio Vaticano II.


55- Qual pensa que será seu programa?


Creio que vai dar um impulso vigoroso ao programa ecumênico. Seu ‘’reinado’’ vai ser curto, e por esta razão penso que ele vai se mover rapidamente até o que ele chamou de ‘’reconciliação na diversidade’’, uma expressão que tomou de Cullman, um ministro protestante. Isto significa que vai se esforçar por juntar todas as religiões em alguma grande organização na qual cada uma guarde sua identidade. Irá começar com os cismáticos e protestantes. Não me vai surpreender que faça alguns audazes movimentos nesta direção. Durante a era Wojtyla, Ratzinger elaborou toda a teologia necessária para isto.



6- A qual teologia você se refere?


A ‘’Nova Eclesiologia’’.



7- O que é a nova eclesiologia?


É o ensinamento concernente a natureza da Igreja de Cristo. A eclesiologia tradicional é muito simples: a Igreja de Cristo é a Igreja Católica Apostólica Romana, que é o único meio de salvação no mundo. Qualquer religião fora da Igreja Católica Apostólica Romana, seja a Grega Ortodoxa, seja a Protestante, Judia, etc., apesar de qualquer verdade que possam possuir, ou ainda sacramentos válidos, são falsas religiões e não são meios de salvação.


Obviamente tal eclesiologia é incompatível com o ecumenismo. Não obstante, já desde 1930 os Modernistas elaborarão uma eclesiologia ecumenista segundo a qual se podem ver alguns valores nas religiões não Católicas. Esta nova eclesiologia se incorporou aos ensinamentos do Vaticano II, e é o veículo do ecumenismo.


O que é a nova eclesiologia? Eis aqui um resumo:

· A Igreja de Cristo e a Igreja Católica Apostólica Romana não são uma mesma coisa, já que as igrejas não Católicas pertencem a Igreja de Cristo, mas não a Igreja Católica.

· A Igreja de Cristo ‘’subsiste na’’ Igreja Católica Apostólica Romana, por quanto como Igreja Católica tem ela a ‘’plenitude’’ de todos os elementos da Igreja de Cristo.

· A Igreja de Cristo, apesar de não subsistir nas igrejas acatólicas por faltar-lhes a estas a ‘’plenitude’’, todavia se encontra de uma maneira imperfeita nessas igrejas não católicas.

· As igrejas acatólicas são, todavia, verdadeiras ‘’igrejas particulares’’ que formam, junto com a Igreja Católica Apostólica Romana a única Igreja de Cristo.

· A Igreja Católica Apostólica Romana está em ‘’comunhão parcial’’ com as igrejas acatólicas, na medida em que elas tem elementos da Igreja de Cristo, tais quais como os sacramentos válidos e doutrinas verdadeiras.

· As igrejas acatólicas são ‘’meios de salvação’’ na medida em que preservem elementos genuínos da Igreja de Cristo.

· Nessas igrejas acatólicas que têm uma Eucaristia válida (por exemplo a Ortodoxa Grega), a Igreja una, santa, católica e apostólica se faz presente cada vez que elas oferecem uma Eucaristia válida.

· As igrejas não Católicas que não estão sujeitas ao Romano Pontífice (que são todas elas) estão feridas por esta falta de sujeição. Contudo, apesar de seu repúdio a supremacia Romana, seguem sendo ‘’Igrejas particulares’’, isto é, igrejas-membro da grande Igreja de Cristo.


8- Que significa tudo isso?

Isto significa o abandono do ensinamento tradicional da Igreja Católica concernente a natureza da igreja de Cristo. Contradiz o ensinamento tradicional, e por tanto, dizemos que o Vaticano II é herético e que Ratzinger é herege por haver promulgado este ensinamento. Por esta razão digo que Ratzinger nem se quer é católico.



Homilia, 29 de junho de 2007: Caros irmãos e irmãs, na profissão de fé de Pedro, podemos sentir-nos e ser todos um só, não obstante as divisões que, ao longo dos séculos, dilaceraram a unidade da Igreja, com consequências que perduram até aos dias de hoje.


9- Que outra heresia Ratzinger abraça?

É evolucionista no concernente a verdade e a Igreja. Em um discurso dado em uma igreja protestante de Roma, em 1993, disse o seguinte: ‘’Consequentemente a meta, a alma de todo esforço ecumênico é alcançar a unidade real da Igreja que implica uma multidão de formas que ainda não podemos definir.’’ Em outra ocasião disse: ‘’por enquanto não me atrevo a sugerir nenhuma realização concreta possível e imaginável desta igreja futura.’’Agora, eu pergunto, o que é mais definido que a doutrina, culto e disciplina da Igreja Católica Romana? Você compreende o quão alarmante é ouvir ele falando tal coisa, que não tem idéia de como vai ser a Igreja no futuro, devido ao ecumenismo? Ratzinger é darwiniano evolucionista no que diz respeito a religião Católica.


10- Expressa Ratzinger esta idéia evolucionista em outro lugar?


Sim, em seu livro Muitas Religiões – Uma Aliança, (1998) Ratzinger faz algumas afirmações muito alarmantes:

· ‘’O que precisamos, de todas as formas, é respeito por todas as crenças de outros e disposição para olhar a verdade no que nos choca como estranho ou raro; tal verdade nos concerne e pode corrigir-nos e levar-nos adiante ao longo do caminho.’’ (p 110)

· ‘'Aprenderei melhor minha própria verdade se entendendo a outra pessoa e permitir a mim mesmo a ser movido ao longo do caminho para Deus que é sempre mais grande, seguro que eu nunca carreguei toda a verdade sobre Deus em minhas próprias mãos, mas serei sempre um aprendiz, em peregrinação até ela, um caminho que não tem fim.’’ (ibid.)


Agora eu pergunto, como alguém que tem a fé católica pode dizer coisas semelhantes? Não ensina a Igreja Católica toda a verdade em nome de Cristo? Ratzinger não tem a fé. Como pode estar a fé católica ‘’em um caminho que não tem fim’’? Como pode dizer um católico, ‘’nunca tive a verdade total sobre Deus em minhas próprias mãos?’’ Não é este evolucionismo dogmático em sua forma mais pura, tal como foi condenado por São Pio X?


Vejamos o que mais disse Ratzinger:

· ‘’Em uma forma de dizer, a religião contem a preciosa pérola da verdade, mas está sempre escondendo-a, e se encontra em perigo contínuo de perder sua essência. A relgião pode cair enferma, e converter-se em algo destrutivo. Pode e deve levar-nos a verdade, mas também pode apartar aos homens da verdade... Podemos achar relativamente fácil criticar a religião dos outros, mas devemos estar prontos a aceitar críticas de nós mesmos e de nossa própria religião.’’ (Ibid.)

· ‘’Karl Barth [teólogo protestante] distinguia no cristianismo religião e fé...Tinha razão enquanto a que a religião do cristão pode cair na enfermidade e converter-se em superstição: a religião concreta na que se vive a fé deve ser continuamente purificada no fundamento da verdade, essa verdade que se mostra a si mesma, por um lado, em fé e, por outro lado, se revela a si mesma novamente através do diálogo, permitindo-nos conhecer seu mistério e infinitude.’’ (p. 111)


A partir destas afirmações, está claro que Ratzinger tem a idéia modernista de que a fé é a experiência religiosa de cada homem, que esta se distingue de sua religião, por exemplo, o conjunto de dogmas, observâncias litúrgicas e disciplinas que sustenta e pratica. Disse que a Religião pode corromper-se. Portanto deve estar sujeita a uma constante purificação que se alcança com a fé – que não é religião – e diálogo, por exemplo, com outras religiões.


Esta distinção entre religião e fé é tipicamente modernista. Sujeita a ‘’religião’’ a uma perpétua mudança. Em outras palavras, como disse mais acima, não temos idéia de como será a igreja futura.


O ensinamento Católico, em contraste é que o objeto de nossa fé são os dogmas infalíveis ensinados pela Igreja Católica Romana, a que é absolutamente imutável e irreformável. A liturgia e as disciplinas da Igreja conforme a estes dogmas imutáveis são portanto também imutáveis na sua essência.


Escutemos o que Ratzinger diz sobre a atividade missionária da Igreja Católica:


· ‘’No futuro a atividade missionária não poderá proceder como se fosse um caso de comunicação com alguém que não tem nenhum conhecimento de um Deus que ele tem que acreditar.’’ (p. 112)

· ‘’A proclamação do Evangelho tem que ser necessariamente um processo de diálogo. Nós não estamos contando algo a outra pessoa que seja totalmente desconhecido; em vez disto, estamos abrindo fenda escondida de algo com o qual já está em contato em sua própria religião.’’ (Ibid.)

· ‘’O diálogo entre religiões deve converter-se mais e mais um escutar ao Logos, que está apontando para nós,em meio de nossa separação e nossas afirmações contraditórias, a unidade que já compartilhamos.’’ (Ibid.)


Estas afirmações de Ratzinger destroem por completo o ensinamento da Igreja católica, no sentido de que Ela é a única Igreja verdadeira fora da qual não há salvação. A Igreja Católica nunca levou a cabo sua atividade missionária desta forma. Nunca ‘’dialogou’’ com as falsas religiões. Ao passo que sempre foi cuidadosa em não insultar as pessoas, e até aceitou alguns de seus costumes não incompatíveis com o Catolicismo, nunca reconheceu valor nas falsas religiões. Acaso São Pedro ou os papas dos primeiros tempos ‘’dialogaram’’ com os romanos idólatras para encontrar a ‘’unidade que já compartilham’’?


A Igreja de Ratzinger é desconhecida para os católicos e para a história do catolicismo. Ratzinger nos está pedindo que abandonemos a eterna e imutável Igreja de Cristo para aderirmos a uma desconhecida Igreja do futuro.



Ratzinger distribuindo a Eucaristia para um protestante, Irmão Roger da Comunidade Taizé. Ratzinger diz sobre Roger:’’ Frère Schutz está nas mãos da bondade eterna, do amor eterno, chegou à alegria eterna.’’(Zenit17-08-2005) E ainda : ‘’Seu testemunho cristão de fé e de diálogo ecumênico foi um ensinamento precioso para gerações inteiras de jovens’’ (Zenit 16-08-2006)


11- Como pensa que Ratzinger vai tratar os tradicionalistas?


Penso que vai ignorar por completo os sedevacantistas. Quiçá excomungue a um de nós. Creio que vá dar algo ao movimento do Indulto e a Fraternidade de São Pedro. Eles aceitam o Vaticano II e não tem problema com a nova eclesiologia. De modo que Ratzinger não vai a ter problemas, creio, em garantir-lhes melhor status do que Wojtyla deu-lhes. Wojtyla odiava o movimento tradicionalista. Ratzinger é diferente. Em matéria de gostos, é mais conservador que Wojtyla, e vai preservar a conservação da Missa Latina Tradicional, algo assim como uma peça de museu. Enquanto se empenhe com a ‘’reconciliada diversidade’’ as pessoas do Indulto e da Fraternidade de São Pedro vai a ser favorecida por Ratzinger.


Dessa forma, penso que Ratzinger vai apelar a ala esquerda da Fraternidade de São Pio X para regularizar-la, isto é, a colocar sob o controle do Vaticano. Vai garantir-lhes consideráveis concessões. Se ele obtiver êxito, vai dividir este grupo, como já estão divididos entre esquerda e direita.


De toda forma, penso que, desgraçadamente, o que sobrar da Fraternidade São Pio X vai seguir alegremente na mesma velha linha de ‘’estar com o Santo Padre’’ – uma evidente mentira – e ao mesmo tempo continuar com sua pratica de desafio por medo da desobediência organizada e universal contra ele. Ou seja que não há muita esperança ali.


12- Então, qual será nossa atitude a respeito de Ratzinger?


A mesma atitude que tivemos com Wojtyla: que não é católico porque é herege, e que está impondo aos católicos uma falsa religião. Por ambas razões, não pode ser um papa católico. Seguiremos como sempre, rogando a Deus que algum dia nos de um verdadeiro papa católico. Somente mediante um verdadeiro papa católico nossa Igreja Católica e nossas vidas católicas poderão voltar a normalidade.


A Sé está vacante.



RESUMO:


· Ratzinger é herege principalmente por sua posição a respeito das coisas condenadas pela Igreja: o ecumenismo e a nova eclesiologia.


· Ratzinger é evolucionista no que diz respeito a natureza da Igreja, o qual demonstra uma atitude herética contra a Igreja, que é um objeto de nossa fé.


· Ratzinger disse que os católicos não tem toda a verdade sobre Deus, e devem dialogar com acatólicos para acha-la.


· Precisamos perseverar em nossa resistência ao modernismo sustentando que Ratzinger é um falso papa e persistindo nos ensinamentos que foram legados de nossos antepassados como Fé Católica.



( MHT Newsletter, Maio 2005; Most Rev. Donald J. Sanborn - Reitor, Most Holy Trinity Seminary - bpsanborn2002@yahoo.com )


---

Tradução feita de: 'Don't Get Your Hopes Up about Ratzinger: Q & A' - http://www.traditionalmass.org/articles/article.php?id=63&catname=15 ; também em espanhol: '¿QUIÉN ES JOSEPH RATZINGER?¿QUÉ PODEMOS ESPERAR DE ÉL?' - http://ar.geocities.com/verdadunica01/ratzinger.html


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Furacões na Cidade... de Deus - parte III

Continuando o capítulo 11 do livro "Os Jesuítas", do sacerdote exorcista Malachi Martin:

"Em outro nível, enquanto isso, acontecia em todos os seminários, colégios e universidades católicas uma depuração mais sutil mas ainda evidente. Homens mais velhos, de idéias tradicionais, foram aposentados prematuramente ou simplesmente se afastaram desgostosos. Eles só eram substituídos por partidários fervorosos da "Renovação" (a palavra era sempre escrita com a inicial maiúscula naquela primeira fase). Os seminaristas eram expulsos se achassem a novidade abominável.

Para acentuar as cores de crepúsculo daquela cena varrida pela tempestade, veio uma segunda tempestade, a onda de euforia. Surgiu, entre os que restaram, a magnífica, embora nem sempre convincente, idéia de que o futuro do catolicismo, tão abruptamente reduzido em sua prática e no número de adeptos, era agora um tanto mais brilhante do que nunca. O que parecia um monte de destroços era, na realidade, uma imensa renovação pentecostal em marcha; a verdadeira Igreja de Cristo estava para surgir em toda a sua beleza e verdade.

Aquelas esperanças - todas as esperanças - se concentravam, agora, na comunidade, "O Povo de Deus" estava, agora, distinto e separado da antiga e inflexível hierarquia do papa, bispos, padres e freiras na rígida solidificação da disciplina romana. Mais do que isso, dizia-se agora que aquele Povo de Deus - todo ele, bem como cada pequeno grupo de fiéis - era a verdadeira Igreja, a verdadeira fonte daquilo em que se deve acreditar. Em questões de fé, moral, dogma e prática religiosa, Roma, do atual estado da Geórgia, tinha a mesma autoridade que a Roma dos papas. A autoridade central estava desaparecendo como verdade católica prática.

Se alguém olhasse à sua volta, na primeira fase da tempestade, para se orientar, nenhuma pessoa isolada e nenhum grupo isolado pareciam responsáveis pelo surgimento daquela eufórica convicção. Mas ela avançava como um incêndio descontrolado pelas igrejas, afrouxando os laços entre os leigos e o clero, entre freiras e superiores eclesiásticos, entre padres e bispos, entre bispos e papas.

Conseqüência imediata foi a insistente exigência de que a democratização substituísse a autoridade central e pusesse uma nova e muito necessária ordem por toda a Igreja. Os padres se organizaram em ligas, associações, senados e sindicatos, em bases nacionais e regionais. As freiras fizeram o mesmo. Os leigos, homens e mulheres em separado, também. Todos emitiam declarações bem delineadas de seus direitos e exigências. Todos exigiam que métodos democráticos fossem usados não apenas no governo da Igreja Romana, mas até mesmo para "decidir" no que se deveria acreditar. Toda uma gama de carreiras inteiramente novas abriu-se para clérigos que não tinham interesse em ouvir confissões, batizar bebês, procurar pecadores e rezar missa.

Com uma velocidade surpreendente, a cena contemporânea assumiu um aspecto ridículo, cômico, que parecia pedir uma exploração em filmes do tipo "pastelão" e por cômicos de casas noturnas. Padres com rosários simbolizando paz e amor faziam pressão sobre os bispos, dedilhando violões e cantando "Sonhar o Sonho Impossível". Freiras usando maquilagem, jóias e roupas da moda sorviam coquetéis em suas "convenções" anuais em salas de estar de hotéis. Bispos estampavam em suas cartas pastorais a foice e o martelo em alto relevo, em vez dos símbolos normais da Cruz e da Igreja. Teólogos davam saltos mortais metafóricos sobre a cúpula da Basílica de São Pedro, em suas tentativas de saltarem para longe de toda e qualquer regra romana de moralidade e fé. Um arcebispo americano subiu serenamente ao púlpito para pedir à sua congregação que parabenizasse e rezasse por seu bispo auxiliar que no dia seguinte ia deixar o episcopado para se casar. Um bispo americano, que mais tarde se tornou cardeal, organizava "comitês de bolinhos" em todas as suas paróquias para serem usados como pão da comunhão do novo rito que substitui a Missa Romana. Um arcebispo mexicano começava regularmente seus sermões dominicais com um punho cerrado erguido ema saudação e com o grito desafiador da Internacional Comunista, "Soy marxista", nos lábios.

O público em geral não deixou de perceber a atmosfera circense. Pela primeira vez na história da indústria cinematográfica e de televisão americana, o padre católico, a freira católica, o seminarista católico, os rituais católicos tornaram-se presa fácil para risadas gratuitas e dramas horripilantes. Como o pastor anglicano na Inglaterra de Noël Coward e os rebe judeu na Europa das décadas de 1920 e 1930, aqueles personagens católicos romanos, antes intocáveis - freira, padre, bispo, papa, seminarista - entraram para o cartaz mundial de matéria de entretenimento.

E a euforia continuava. De algum modo, tudo aquilo, também, era interpretado como parte da promessa de um futuro dourado para o catolicismo.

A substância, tanto da euforia como da confusão nunca foi retratada mais literalmente do que por dois artistas romanos, Ettore de Concillis - sem dúvida um nome com um toque de ironia histórica - e Rosso Falciano. Nos últimos dias do Concílio Vaticano II, contratados para decorar as paredes de uma nova igreja em Roma dedicada a São Francisco de Assis, Conciliis e Falciano pintaram uma rodopiante montagem de rostos de perfil. Foi como se a brafunda disparatada de retratos tivesse sido colocada naqueles mesmos ventos fortes, àquela altura adquirindo rapidamente a plena força de um furacão. O papa João XXIII, o ditador comunista Fidel Castro, o ateísta professo Bertrand Russell, o líder do Partido Comunista Italiano Palmiro Togliatti, a atriz excomungada Sophia Loren, o presidente Alexei Kosygin do Conselho de Ministros soviético, o prefeito esquerdista Giorgio La Pira, de Florença, o ditador comunista Mao Tsé-tung da China, e sabe-se lá por que razão, Jaqueline Bouvier Kennedy.

Nem Conciliis nem Falciano eram comunistas. Mas estavam convencidos de que, com o Vaticano II, tudo estava mudado. Ninguém estava errado: todos estavam certos. Tal como a Igreja, São Francisco, o poverello de Assis, podia abraçar a todos. Porque agora o impossível aconteceu. A Igreja Católica tornou-se humana; e, portanto, nada que fosse humano podia ser visto como alheio a ela. Renovação era o caminho, a verdade, e a vida do catolicismo romano. E sua mensagem era levada nas asas de seu próprio delírio: se a Igreja hierárquica pudesse mudar, pudesse adaptar à humanidade da Renovação, a Era de Ouro da Cristandade iria nascer.

Realidade, disse certa vez Jean-Paul Sartre, é um balde de água fria. Ela o deixa sem respiração, incapaz de falar. Foram tão repentinos e tão esmagadores aqueles dois furações, que expressões articuladas de surpresa ou choque pareciam impossíveis para a grande maioria de homens e mulhres - tanto testemunhas como participantes. A mudança foi uma mudança de verdade. A euforia era euforia de verdade. Ninguém discutia a autenticidade de nenhuma das duas. Sua realidade ultrapassava qualquer ficção ou pretensão, em termos de estranheza, incongruência ou espírito inventivo. Mas embora houvessem indivíduos e grupos de pessoas aqui e ali que gritassem em equivalente a "Esperem aí! O que é que está acontecendo? Por que estamos mudando tudo?", era como se ninguém pudesse ouvi-los por causa do barulho da tempestado dupla que assolava o catolicismo."